Um dos quatro suspeitos de participação na morte da cantora gospel Sara Mariano falou com exclusividade ao Bahia Meio Dia, telejornal da TV Bahia, sobre a atuação dele na execução do crime. O ajudante de obras Victor Gabriel Oliveira, de 24 anos, se diz arrependido, mas afirma ter se sentindo ameaçado para manter silêncio.
Victor já tinha confessado à polícia a participação no ato. Durante a entrevista, que foi acompanhada pelo advogado Marco Pavã, ele contou que frequentava a mesma igreja de Weslen Pablo Correia de Jesus, o Bispo Zadoque, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador(RMS).
Segundo Victor, os dois eram amigos e o crime foi planejado em setembro, em uma noite em que ele e o líder religioso dormiram no espaço onde funcionava um estúdio de gravações de vídeos administrado por Ederlan Santos Mariano, marido da vítima, apontado como mandante do assassinato.
"Foi lá [no estúdio] que ele falou desse plano [de matar Sara]. Ele conversou com o Bispo Zadoque, e aí eu estava no meio e não tive como escutar, mas o trato dele foi com o Bispo Zadoque" disse o suspeito, que acrescentou que Ederlan tinha queria dar mais visibilidade ao canal dele em uma plataforma de vídeos, onde eram postados conteúdos religiosos.
Nessa mesma ocasião, conforme Victor, Ederlan definiu os valores que seriam pagos ao Bispo Zadoque pela execução.
No dia combinado, de acordo com o suspeito, primeiro o motorista por aplicativo Gideão Duarte levou ele e Bispo Zadoque para o local onde Sara foi morta, às margens da BA-093, em Dias D'Ávila, também na RMS.
"No momento do ato, que o Zadoque desceu com a vítima, eu ouvi só os gritos deles. Eles gritaram, gritaram pedindo ajuda para ir lá. Eu desci [do carro], e ele [Bispo Zadoque] já estava no chão mais (sic) ela. Eu só fiz segurar o braço dela", afirmou Victor,reforçando que imobilizou Sara Mariano, para que o Bispo Zadoque a matasse.
Durante a entrevista, Victor chorou e se disse arrependido do que fez. "Eu já estava lá, não tinha como voltar atrás", afirmou, ponderando que pensou em desistir, contudo, se sentiu coagido.
Corpo de Sara Mariano foi achado em uma área de mata às margens da BA-093, em Dias D'Ávila, parcialmente queimado — Foto: Reprodução/TV Bahia |
Victor disse no depoimento à polícia que recebeu R$ 500 reais de Ederlan. Gideão recebeu R$ 400 e o Bispo Zadoque, R$ 900 reais. E havia promessa de receber um valor entre R$ 10 e 15 mil, dinheiro que Sara teria guardado. [Veja detalhes do depoimento abaixo]
O cantor Davi Oliveira, citado pelos três presos em depoimentos teria tido conhecimento do crime pouco tempo depois do ocorrido e recebeu R$ 200 para garantir silêncio a respeito. Ele foi ouvido na delegacia de Dias D'Avila como testemunha na sexta-feira (17), e disse que recebeu o dinheiro como empréstimo. Sobre o caso, afirmou não ter feito a denúncia por ter sido ameaçado.
Ainda na sexta, no fim da tarde, os dois presos foram transferidos para o Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador, onde já estava Ederlan Mariano.
Ederlan Mariano, investigado por matar a esposa e cantora gospel Sara Mariano, está em presídio na capital baiana — Foto: Davi Cerqueira/TV Bahia |
Entenda
Os envolvidos na morte da cantora gospel Sara Mariano admitiram ter rateado R$ 2 mil, que foram dados pelo marido dela, Ederlan Santos Mariano, para executar o crime. Ederlan foi o primeiro suspeito a ser preso, em 28 de outubro.
Weslen Pablo Correia de Jesus, Gideão Duarte e Victor Gabriel de Oliveira admitiram o recebimento dos valores em acareação realizada na quinta-feira (16), na delegacia de Dias D'Ávila, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), responsável pelas investigações do caso.
O procedimento de acareação consiste na apuração dos fatos, confrontando investigados ou testemunhas frente a frente. Além dos três envolvidos diretamente na execução de Sara Mariano, um quarto homem identificado como "cantor Davi Oliveira" aparece na divisão do dinheiro.
Segundo os suspeitos, Davi recebeu R$ 200 como "cortesia", porque sabia do plano para matar Sara Mariano, mas não participou de nenhuma fase do crime.💰 R$ 2 mil: valor pago por Ederlan Santos Mariano pela morte de sua esposa Sara Mariano.
💵 R$ 900: valor recebido por Weslen Pablo Correia de Jesus, conhecido como Bispo Zadoque, executor da vítima e responsável pela ocultação do cadáver.
💵 R$ 500: valor recebido por Victor Gabriel de Oliveira, que segurou Sara para que Weslen Pablo, o Bispo Zadoque, a matasse. Também participou da ocultação do cadáver.
💵 R$ 400: valor recebido por Gideão Duarte pelo transporte de Sara para encontro dos executores, e dos mesmos para a casa de Ederlan após o crime. Ele ainda retornaria ao local com os executores para a queima do corpo de Sara.
💵 R$ 200: valor recebido pelo homem identificado como "cantor Davi Oliveira". Segundo os demais acusados, ele sabia do plano para matar Sara Mariano, mas não participou de nenhuma fase do crime. A polícia ainda não divulgou se esse homem será indiciado.
A acareação ainda detalhou o passo a passo do crime. Veja o que disseram os envolvidos:
👉 Weslen Pablo Correia de Jesus, o Bispo Zadoque - executor do crime - está preso
Bispo Zadoque é acusado de matar Sara — Foto: TV Bahia |
Ao lado de Victor Gabriel de Oliveira e Gideão Duarte, participou do planejamento, da execução e da ocultação do cadáver de Sara Mariano.
Disse ter usado gasolina para incendiar o corpo da cantora.
Detalhou a divisão do dinheiro entregue por Ederlan para o crime.
Disse que Ederlan prometeu novos pagamentos quando o dinheiro que Sara teria guardado em casa fosse localizado. Os valores estariam entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.
Victor Gabriel de Oliveira - ajudou na execução - está solto
Victor Gabriel Oliveira é suspeito de envolvimento na morte da cantora gospel Sara Mariano — Foto: Reprodução/TV Bahia |
- Pediu desculpas por ter mentido no primeiro depoimento e admitiu participação no crime.
- Disse que o crime foi planejado em setembro, um mês antes da execução.
- Afirmou que Gideão simulou uma pane no veículo para entregar Sara aos executores.
- Segurou Sara para que Weslen (Bispo Zadoque) a esfaqueasse.
- Afirmou que após o crime seguiu com os demais suspeitos para a casa de Ederlan, onde entregaram o celular de Sara para o mandante.
- Disse que acompanhou Weslen, e levados por Gideão, retornaram ao local do crime no dia seguinte para ocultar o cadáver, após Ederlan mostrar preocupação com a repercussão do desaparecimento da cantora gospel.
👉Gideão Duarte - motorista que conduziu Sara e os executores para o crime
Da esquerda para a direita: Ederlan Mariano, Bispo Zadoque, Gideão Duarte e Victor Gabriel — Foto: Arte/g1 bA |
- Disse ter tomado conhecimento do plano apenas no dia do crime.
- Foi chamado por Weslen, o Bispo Zadoque, e recebeu R$ 400.
- Deixou Victor e Weslen no local combinado e em seguida fez o mesmo com Sara.
- Para parar no local com a cantora gospel, simulou que o carro passava por um pane.
- Disse ter ficado no carro enquanto Weslen e Victor mataram Sara.
- Levou os executores de volta para a cada de Ederlan, onde eles entregaram o celular da vítima.
- Em seguida, levou os dois para Rodoviária e pegaram o cantor Davi Oliveira.
- O destino do grupo era Camaçari, mas no trajeto, Weslen pediu para voltar ao local do crime.
- Após o desvio, o trio foi deixado no condomínio Algarobas, em Camaçari, e seguiu para casa, onde foi devolver o carro que dirigia, e que era emprestado.
- Afirmou ainda que no dia seguinte ao crime, pela noite, retornou com Weslen e Victor ao local para retirar o corpo, ou caso não fosse possível, atear fogo, o que foi feito.
Relembre caso
A cantora desapareceu em 24 de outubro, quando saiu da casa onde morava no bairro de Valéria, em Salvador, com destino a uma reunião de mulheres, em uma igreja. Sara, inclusive, postou nas redes sociais que estava a caminho de Dias D’Ávila horas antes de desaparecer.
Ela seria levada até o local por um motorista de confiança, Gideão Duarte, que já havia prestado esse serviço anteriormente. Depois de entrar no carro, a cantora não foi mais vista. Ele tomou um carro emprestado com outra pessoa, conhecida no meio religioso como Apóstolo Hugo, para transportar a artista - ele não é apontado como suspeito de envolvimento com o ato.
O marido dela, Ederlan Mariano, mobilizou buscas pela esposa na imprensa e nas redes sociais. Três dias depois, em 27 de outubro, o corpo de Sara foi encontrado.
A família de Sara afirma que Ederlan era agressivo com a esposa, forçava relações sexuais, e ela planejava sair de casa. A mãe dela contou que, pouco antes de morrer, a filha disse que tinha algo importante para revelar, mas não deu tempo, porque ela foi assassinada.
Ederlan Mariano foi preso por matar a esposa, a cantora gospel Sara Mariano, na Bahia — Foto: TV Bahia |
O segundo suspeito a ser preso foi o Bispo Zadoque, amigo de Sara. Ele foi detido na noite de terça-feira (14). O homem atuava em igrejas evangélicas na RMS e trocava mensagens carinhosas com a vítima nas redes sociais. Na quarta-feira (15), Gideão Duarte, também foi preso. Neste dia, eles passaram por audiência de custódia e tiveram as detenções mantidas pela Justiça.
Delegacia de Dias D'Ávila, na Região Metropolitana de Salvador, é responsável pelas investigações — Foto: Reprodução/TV Bahia |
Fonte: g1 Bahia