Após o assassinato do Agente Penitenciário Antônio Carvalho, 64 anos, ocorrido na noite do último sábado (21) ao sair do Conjunto Penal de Juazeiro, Norte da Bahia, o medo toma conta dos colaboradores da empresa Reviver, que administra a unidade penitenciária. Em contato com o PNB, um grupo de agentes atribuiu o homicídio do colega a revolta dos presos contra os profissionais que atuam no CPJ.
Eles relataram que muitos agentes estão entrando com Pedido de Demissão Voluntária, pois não se sentem seguros no ambiente de trabalho e criticam os responsáveis pela administração do presídio.
“Essa empresa é tão desumana que sequer divulgou uma nota de pesar pela morte de ‘Seu Carvalho’. Somente hoje, cinco dias da morte do agente, após muitas críticas, é que soltaram uma nota tardia. Eles não tem empatia e nem consideração com seus funcionários. Vamos ver se vão dar assistência a família do trabalhador,” criticou um agente.
“A empresa Reviver perdeu o controle de gerenciar a unidade. A direção nos oprime e estamos adoecidos. Muitos com quadros de ansiedade, depressão, síndrome do pânico. Inclusive, tem colaborador com licença médica por depressão, onde já tentou tirar a própria vida várias vezes. Tudo isso por conta das ameaças de morte e risco que corremos, sem que a empresa nada faça. Trabalhamos aterrorizados, com medo de morrer. Somente hoje, 26, foram uns 20 Pedidos de Demissão Voluntária e a gerente disse que não vai fazer acordo com ninguém. A morte do nosso colega, ‘Seu Carvalho’, foi uma tragédia anunciada e poderia ser qualquer um de nós, pois a ordem partiu lá de dentro. Tanto que, o suposto mandante da morte de ‘Seu Carvalho’ foi transferido ontem para o Conjunto Penal de Serrinha,” acusou outro.
“O que a gente quer é que a empresa Reviver entregue a administração ao Estado, porque ela não está tendo condições mais de cuidar nem sequer dos funcionários que ainda restaram e estão colocando a gente em risco de morte. A empresa deveria comunicar ao Estado que não tem mais condições de assumir o conjunto penal, pois o que a gente vê é que a empresa perdeu o controle. A empresa foi perdendo os funcionários aos poucos. Demitindo com injustiça as pessoas de bem que ali trabalhavam. Qualquer questionamento mínimo que a gente fazia de coisas erradas, era demissão. Chegamos ao limite. Um Conjunto Penal que tem quase 1.100 presos, atualmente, com um número resumidíssimo de funcionários. Estão, de forma irresponsável, colocando a vida da gente em risco. O Governo do Estado precisa urgente fazer uma intervenção e colocar agentes penais pra tomarem conta dos presos e fazer a Reviver pagar nossos direitos trabalhistas, pois o que queremos é sair dali com vida,” desabafou um agente.
Um ex-agente também se manifestou sobre os riscos que correm: “Até quem já não faz mais parte do quadro, sai de lá com esse peso na mente. Medo das ameaças de morte que sofremos lá dentro. Assim como os agentes na atividade, somos alvos e presas fáceis das organizações criminosas e vivemos sob ameaças de morte. Os agentes penais podem andar armados, mas nós, que lidamos diretamente com os presos, somos proibidos e perseguidos pela polícia por não poder usar arma. Até os ex-agentes não têm paz com tanta impunidade e falta de segurança,” relatou o ex colaborador.
Outro profissional relatou que dezenas de presos, que trabalham na unidade, ficam soltos e portando objetos que podem servir como armas: “Presos na cozinha fazendo uso de facas, atuando como magarefes; presos com enxadas e foices circulando dentro da unidade, sem nenhum agente acompanhando; presos mexendo na eletricidade da cadeia, fazendo papel de eletricista. Na verdade, estamos na pior e vários agentes estão pedindo demissão. Ficam 30, 40 presos soltos no presídio e nós, quando passamos por eles, temos que baixar a cabeça, com medo, concluiu.
Denúncia anterior
Nesta quinta-feira (26) o Portal Preto No Branco foi procurado por outro grupo de agentes penitenciários do CPJ que também reclamaram da administração atual, relataram os riscos que correm e atribuíram o assassinato do agente Antônio Carvalho como consequência da revolta dos presos.
“O Conjunto Penal está de mal a pior. Isso que aconteceu com ‘Seu Carvalho’ já era uma tragédia anunciada. Temos certeza de que a ordem do homicídio partiu de dentro do presídio e a vítima poderia ser qualquer um dos agentes. ‘Seu Carvalho’ era um ser humano maravilhoso, profissional exemplar, um pai de família, que nos faltam até palavras para descrevê-lo. Ele tinha mais de 15 anos de trabalho na unidade, e nunca se envolveu em problemas, nunca deu um tapa em um preso. Ele era um homem cristão, que sempre levou a palavra de Deus para todos que estavam dentro do Conjunto Penal. Todos gostavam de seu Carvalho, sem exceção nenhuma, e agora, infelizmente, ele foi vítima dessa covardia. O assassinato pode ter relação com o que vem acontecendo lá dentro, pois o novo diretor e alguns dos policiais penais concursados estão fazendo o que querem dentro do presídio. Vivem algemando os presos na sala da triagem que recebe os internos. Além de algemar os detentos, eles ainda jogam spray de pimenta e trancam os mesmos dentro dessa sala. Tudo isso está fazendo com que os presos se revoltem cada vez mais contra os agentes penitenciários da empresa Reviver”, acusou.
O profissional denunciou ainda que, durante o dia, mais de 60 internos que prestam serviços na unidade ficam circulando pelo CPJ.
“Eles ficam circulando pelo interior da unidade, no estacionamento, até mesmo às margens da BR, como se fossem funcionários. Essa situação deixa todos os funcionários em risco, pois os presos ficam vendo quem chega, em qual veículo chega, quem está com quem, etc. Eles ficam o tempo todo observando todos os funcionários que chegam e saem. Até as funcionárias estão sendo assediadas diariamente por esses presos que estão em todos os lugares, desde a entrada, até os fundos da unidade”, acrescenta.
Ainda conforme o relato, os monitores estão sendo obrigados a executar atividades que não são de responsabilidade da categoria.
“Outro procedimento que esse diretor inventou é o chamado pelos agentes de “procedimento suicida”. Nele, 4 ou 5 agentes entram nas celas depois que realizam a tranca dos pavilhões, e retiram mais de 15 presos para revistarem os mesmos, pondo a vida dos agentes em risco”.
Ele finaliza pedindo justiça para a morte do agente penitenciário Antônio Carvalho.
“Clamamos por justiça para o nosso amigo e colega de trabalho. Pedimos também que esse diretor do conjunto penal, o Sr. Arquimedes, tenha um pouquinho de sensibilidade e pare de querer bancar o super-herói, achando que preso tem medo de agente ou polícia penal.
Pare de expor a vida dos agentes”.
Estamos tentando contato com a direção do presídio. Também estamos encaminhando as reclamações para a empresa Reviver e Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap).
Redação PNB